A morte, agora confirmada, do menino Juan mostra mais uma vez, e sabe-se não será infelizmente a última, o conflito constante que moradores de áreas carentes enfrentam com o Estado. Seja esse representado por seu braço armado, pelo setor educacional, de lazer ou saúde, as relações são sempre conflitantes. A falta ou pouca assistência aos que mais precisam é um abuso não punido e repetido desde que tivemos por aqui as primeiras noções de organização política. Funciona como se os serviços governamentais não pudessem existir com qualidade e eficiência para os mais pobres. Há a cultura preconceituosa e vil de achar que pobre precisa de pouco e pouco lhe deve ser dado. Invoco os Titãs e pergunto “Você tem sede de quê?”, “Agente não quer só comida”. Agente, vossa excelência precisa de proteção, de Juans vivos e cheios de perspectiva. Agente tem sede de que as autoridades policiais investiguem o desaparecimento e morte dos filhos dos favelados com a mesma competência que os filhos dos famosos e ou empresários da zona sul e Barra da Tijuca. Sim, se Juan tivesse “pedigree” teria seu sumiço investigado ao tempo devido, mas, infelizmente, ele para os órgãos policiais é “vira-lata”, cão sem dono. Afinal ninguém atira em um bigle quando se depara com ele na rua, ao contrário, tem-se o impulso de tomá-lo nos braços e acariciá-lo. Já um vira-lata agente repudia, chuta e como no caso, atira e mata, afinal ele não tem pais, história, protetor.
Indigno-me por saber que Juan era uma criança e não um cachorro, aliás, a esse devemos respeito e cuidados, filho de pais responsáveis e cuidadosos que com sacrifício e dignidade o preparavam para o futuro. Apenas uma criança que não teve a sorte de nascer mais perto do mar, nos bairros em que a prefeitura investe muito, um bairro no qual os moradores mereçam a atenção do poder público, atenção essa negada aos vizinhos do garoto vitimado. Disse estar indignado, mas ao mesmo tempo sinto vergonha de o máximo que estou fazendo é enviar esse texto para este espaço. Envergonho-me de minha e de toda inércia social para casos como esse. Envergonho-me da polícia carioca, matadora e opressora, reflexo da visão dos políticos que a gere. Os policiais dão aos mais pobres o mesmo tratamento que o Estado tem dispensado aos seus cidadãos, razão maior dele existir. “Infelizmente amanhã os jornais noticiarão outras mortes parecidas, outros se indignarão e o ciclo continuará.” Agente quer por inteiro e não pela metade’.
Professor Aerton
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