As recentes mensagens veiculadas na internet em ofensa aos nordestinos causaram revolta em todo o país e ações de ONGs e do ministério público. Foram pelo menos 1037 perfis que postaram frases ofensivas de alguma forma. Algumas delas incitavam até a violência. A mim como nordestino e morador do Rio de Janeiro há treze anos, os eventos na web não causaram surpresa. São o reflexo do que ocorre todos os dias nas ruas do sul e sudeste brasileiros. E quanto a isso há alguns aspectos que precisam ser citados.
Primeiro que nesta parte aqui do país, sudeste, os que tiveram a ventura de nascer um pouco mais acima no mapa recebem a alcunha de “Paraíba”, no Rio de Janeiro, ou “Baiano”, em São Paulo. Em segundo lugar, quando temos qualquer personagem nordestino nas novelas ela é sempre de pouca instrução e exótica. É a engraçadinha, a empregada que “é quase da família”. Em terceiro plano estão as piadas e brincadeiras feitas e contadas todos os dias. Essas bravatas trazem consigo uma carga de preconceito que tornam as manifestações recentes dos internautas apenas cócegas.
Como agravante temos o fato de todos nós, nordestinos ou não, acharmos tudo muito normal, engraçado. É necessário que manifestações criminosas como as ocorridas venham à tona para tirar do anonimato o preconceito desmedido que os conterrâneos de Ferreira Gullar, João Cabral de Melo Neto e outros como Ariano Suassuna, sofrem todos os dias. Esses quando estão em seus estados de origem, não sentem e presenciam a discriminação silenciosa algumas vezes, outras não, que eu e outros milhares de habitantes do sudeste e sul do país vivenciamos.
Não se trata de um desabafo, e se fosse seria legítimo, mas de uma tentativa de mostrar o quanto temos que melhorar em nossa relação como nascidos no mesmo país. O quanto temos que melhorar como povo. Convoco cada brasileiro para assim se sentir, não sulista, nordestino ou nortista. Para estarmos, sermos desprovidos de qualquer ideia que nos faça sentir ainda que seja por fração de segundos melhores do que outra pessoa ou grupo.
Professor Aerton
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